quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

As árvores morrem de pé

Devem ser umas cinco da manhã e eu, mais do que noutros dias, não consigo sequer fechar os olhos.
A meu lado, o meu marido, num sono profundo, não sabe nem imagina, quantos fantasmas assombram, não o nosso quarto mas a minha mente.
Apesar de pacifica, confesso gostaria de estar frente a frente, com aquela que muito provavelmente, não gostando de ser mulher, inventou esta coisa absurda da igualdade entre sexos, porque teria muitas coisas para lhe dizer, uma delas, é que não lhe agradeço, este suposto novo estatuto.
Não digo que antes as mulheres eram mais felizes, longe disso, mas hoje e contrariamente ao que se possa supor, também não o são, tornaram-se escravas de uma utopia, descaracterizaram-se e ainda e sempre, são descriminadas e desvalorizadas.
E de regresso ao meus fantasmas, eles mantém-me presente, que não posso falhar, que não me posso esquecer de nada, que tenho que estar sempre pronta, presente e disponível, que devo ter energia, força, coragem e sabedoria. Mesmo que esteja de rastos, o meu pequenino mundo não pode girar sem mim porque, ser-se mãe, esposa e dona de casa, mas sobretudo mulher, significa isso mesmo, resistir sempre, até ao fim e vem-me à ideia, o quanto uma mulher se assemelha a uma árvore.
Os ramos como sendo os filhos, a folhagem, todos os percalços, todos os problemas, todas as preocupações e também todas as alegrias, e como raízes, a coragem, a força, a sabedoria mas acima de tudo a fé, generosamente irrigadas pelo suor e pelas lágrimas.
É essa, a imagem que tenho desse extraordinário estado de existência que é ser-se mulher, uma espécie de intermediária, entre o céu e a terra.
Uma após outra, a árvore vai perdendo as suas folhas, quer pela acção do vento, ou da chuva e, algumas vezes, até os ramos se partem, mas muito embora, despida e enfraquecida, ela mantém-se sempre de pé.
Também é assim a vida de uma mulher. Um caminho longo, pejado de perdas e angústias, uma aprendizagem sempre dolorosa do desapego porém, ela recria-se, reinventa-se, regenera-se, e, mesmo com os olhos toldados de lágrimas, sorriso desmaiado, mesmo com o coração feito em mil pedaços, tal como uma árvore, uma mulher também “morre” de pé.

As coisas que não te disse

Tenho para mim que uma das piores sensações é quando, confrontados com a morte de alguém, nos darmos conta, das coisas que não lhe dissemos, mas mais duro ainda, com o facto de não termos sabido usufruir da sua companhia.
O tempo apesar de tudo não passa tão rápido assim. Somos nós que enchendo-nos de tarefas, muitas vezes inúteis, provocamos a nossa indisponibilidade e o imenso cansaço que costumamos sentir a cada final do dia e também porque nos recusamos a pensar que a passagem das pessoas pela nossa vida, possa ser apenas breve.
Mas o que é um facto, é que o meu amigo partiu e deixou ficar um tremendo vazio, evidenciado pelo fim abrupto das mensagens com anedotas enviadas a meio da noite, pela ausência do toque do telemóvel, pelo agora silencio da voz que se calou para sempre e dei comigo a pensar, nas pessoas que mantenho distantes, pela minha incapacidade em conseguir cinco segundos que sejam, para com elas dividir, o que me vai na alma
O meu amigo partiu e em mim ficou uma profunda tristeza, por não lhe ter dito tantas coisas, especialmente, o quanto esses seus pequenos gestos que na altura, eu considerava irritantes, contribuíram para me fazer sorrir

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

A toalha de Natal

Era já tarde da noite quando Paulina conseguiu por fim adormecer. Sentia a cabeça pesada. Doíam-lhe os olhos cansados de chorar. Dentro do seu peito, uma dor fininha teimava em espetar-se no peito, obrigando-a a colocar mão sobre o coração. A vizinha apressou-se a cobri-la com a manta de retalhos. Lá fora fazia frio e naquela casa também, mas mal saiu do quarto, Paulina abriu os olhos e vendo-se sozinha, sentou-se na cama, ergueu os braços com dificuldade, juntou as mãos e levando-as ao peito, começou a rezar.
Sentia como se todo o peso mundo tivesse desabado sobre o seu corpo envelhecido e gasto pelo cansaço. Continuava viva contudo incapaz de compreender porque quisera Deus que ela tivesse sobrevivido.
Pouco tempo atrás, toda a região fora violentamente consumida pelo fogo e quando as chuvas vieram, arrastaram consigo o pouco que havia sobrado. A sua casa tinha no entanto sido poupada, mas ela perdera o marido.
No dia seguinte, era dia de natal, o primeiro que passaria sozinha e ela sentia-se terrivelmente perdida, por isso rezava a Deus pedindo-lhe fervorosamente a Sua ajuda até que deixando-se vencer pelo cansaço, adormeceu.
O dia amanheceu trazendo consigo um manto de neve que cobria a paisagem. Paulina agasalhou-se com o xaile, abriu a porta e saiu, apesar de tudo, o seu pequenino mundo, o único que conhecia e onde fora feliz, continuava espantosamente belo e ela sentiu-se tocada por aquela imensa toalha branca que a natureza estendera para ela e foi então que se lembrou que na velha arca, continuava guardada a linda toalha de natal que ela tão amorosamente bordara e onde em cada ponto, ficara guardado um pedaço da sua história; o nascimento dos filhos, os baptizados... e estendeu-a sobre a velha mesa ao mesmo tempo que grossas lágrimas a inundavam de saudade.
Subitamente, a porta da sua casa abriu-se e a vizinhança foi entrando e colocando sobre a mesa, as iguarias para a ceia.
E foi então que Paulina compreendeu que quando se tem fé, os milagres acontecem.

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

As coisas que nunca me disseram

Tive uma infância muito feliz, povoada pelos inúmeros e imensos sonhos que a minha avó me ajudava a construir. Tive neste mundo, um universo só meu, onde a fantasia e a imaginação me levavam para além, muito para além; e foi através dessa incomensurável idealidade que me construí como gente e fiz daquilo que me rodeava, uma ilusão.
Lá, nesse limbo por onde andava, não existiam pessoas más, apenas bruxas que acabavam por explodir. Não existia nem tristeza, nem inveja, nem ódio, nem morte, tudo era pintado com todas as cores do arco-íris e profundamente perfumado pelo odor das flores. E creio que para todas as crianças, pelo menos nessa época, o seu universo seria assim.
Mas nunca ninguém me disse que eu iria crescer e que todos os pais e todas as mães que eu conhecia e que ao passarem por mim, me deixavam uma carícia, que eles, todos eles, escondiam por detrás da máscara de um sorriso, a capacidade de sentirem ódio e raiva e muita maldade.
E também não me disseram que os meninos da minha idade, poderiam um dia, tornar-se em filhos maus, abandonarem os pais e as mães ou maltratá-los.Que os carrinhos com que eles brincavam, se iriam transformar em tanques de guerras, e seriam capazes até de matar.
Que também eles um dia, gerariam filhos e que iriam ajudar a tornar ainda maior essa espiral de maldade.
Tão pouco me falaram da morte. Da dor que sempre aumenta com a ausência de alguém que partiu.
E dentro do meu peito, onde antes batia um coração sonhador, instalava-se agora o medo, não o medo da maldade em si, mas de me poder tornar como eles, num ser intolerante, egoísta, soberbo e tendenciosamente perverso, porque nunca ninguém me disse que um dia, eu iria crescer e ter que conviver com os outros nesse mundo que apesar de colorido, não era pintado a cores vivas mas com as cores cada vez mais mortiças do amor, da compaixão e da ternura.

Coisas absurdas

Estive a cortar as unhas das minhas mãos. Pode até parecer absurdo mas sempre que o faço, sinto-me invadida pela tristeza. É que esse simples gesto é muito mais profundo do que aquilo que possa parecer, já que sem dó nem piedade, me arremessa para o lado mais prático e por isso menos poético da vida.
A minha breve crise não se deve apenas à nostalgia mas à recusa veemente em deixar que a auto estima esmoreça.
A unha mais comprida, tem o condão de me fazer voar para bem longe do domínio dos tachos e panelas, da esfregona e do pano de pó, onde o lado prático, chato e terra a terra, reduz e acabrunha, e de me transportar para um outro, em tudo mais delicado, o lado puramente feminino do ser, e é por lá, por esse infindo universo, onde sentimentos, pensamentos e emoções se misturam no grande mistério que é ser mulher, o lugar para onde o meu espírito sempre foge. A vida, esta que conhecemos aqui e agora, vai passando e, num de repente acaba. Por isso, há que incessantemente fazer escolhas, ser objectivo e cada vez mais selectivo, sobretudo quando chegamos àquela fase, em que o tempo, sentimos, se nos escapa por entre os dedos.
E eu, constantemente, vejo-me perante o terrível drama de me tentar dividir por entre esses dois paralelos mundos, um que me prende e o outro que me liberta.
E de regresso às unhas da minha mão, absorta num universo mais glamoroso que uma vez tive, compreendo que quase sempre, são pequenas e absurdas coisas às quais nos agarramos, sobretudo para não nos deixarmos fenecer ou talvez quem sabe, são essas pequeninas e aparentemente insignificantes coisas, que nos prendem ao mais maravilhoso dos estados, estarmos vivos, quanto mais não seja, por dentro.

Por entre vozes

Talvez devido à minha profissão, sempre tenha dado muita importância à voz de cada um. Mais até do que a expressão facial, a voz, pelo timbre, firmeza e respiração, permite-nos construir uma ideia mais ou menos fidedigna das pessoas, ao mesmo tempo que confere às conversas, uma musicalidade única.
A voz, é uma das maiores e mais belas dádivas que Deus nos deu e que podemos oferecer aos outros, porém nem sempre utilizada para o melhor fim, já que quase sempre a serviço do ego, aquele duende feio e mauzinho que subsiste, por debaixo da ponte entre a mente e o coração, muitas vezes destila inveja, rancor e maldade.
Existem vozes, que muitas vezes, não sabendo porquê, encontram dentro de nós um lugarzinho onde permanecem guardadas e que, quando despertam, trazem consigo inúmera memórias e sensações especiais, sejam as vozes de cantores, de amigos, ou mesmo a voz de um simples desconhecido, mas de todas, talvez a voz de mãe, seja aquela que continuará sempre a acender as mais gratas recordações da nossa meninice, mas sobretudo a transmitir-nos segurança.
Mas inimaginável e absolutamente aterrador, seria conceber, um mundo de absoluto silêncio, sem pudermos escutar o som das palavras e da melodia que todos trazem dentro de si.
Porque é de voz em voz, e por entre vozes, esses sons vindos de dentro do nosso corpo, e que nos vão trazendo conforto, serenidade, inquietude ou até mesmo um arrepio, que nos inspiram, nos estimulam, nos apaixonam, que o nosso caminho é embalado, sem duvida, pela mais bela e mais extraordinária banda sonora do filme que é a nossa vida.

Paisagens

Ao longo da vida, permanecem cuidadosamente guardadas, na caixinha da nossa memória, algumas paisagens que nos marcam indelevelmente.
O nascer do dia sobre a praia, o sol que mergulha no mar, como que refrescando-se de um dia de calor intenso, a vasta e verde planície, a imponência de uma montanha... o dia que se despede enquanto a noite preguiçosamente se desperta.
A manhã que nasce, envolta ainda pelo seu lençol de bruma, os tímidos raios de sol rompendo, projectando-se e reflectindo-se na terra, tornando o céu ao mesmo tempo tão próximo mas tão longínquo! Um céu que qual enorme tela azul, se recria e se reinventa com as mil e uma formas das nuvens.
Nada disto faria sentido, sem que a emoção que vivenciamos lhe confira o tal estatuto de eternidade, pois é contemplando a magia da natureza que ao nos sentirmos pequeninos, engrandecemos.
É a alma que se eleva perante o permanente fascínio de uma beleza que se sobrepõe a qualquer obra humana. O incomensurável e insondável mistério que a mão divina se nos oferece e de onde se recortam muitas outras paisagens, paisagens essas que as nossas memórias desenharam ao longo do caminho e que mais não são que o nosso próprio corpo.
Mas é sempre emoldurados pela paisagem envolvente, generosamente pintada e perfumada, que caminhamos. Uma paisagem que confere a todos os momentos o sabor de uma dádiva especial.
Como é perfeito e maravilhosamente belo este lugar sobretudo quando a noite caindo de mansinho ainda nos presenteia com um dos mais extraordinários quadros, o crepúsculo, e é então, que com a alma concentrada nesse cenário de magia que recordo uma frase que li algures: - O crepúsculo parece-me como se fosse Deus a respirar fundo, uma pausa na progressão do tempo.

pela luz dos teus olhos

Talvez a vida seja mesmo redonda. Feita de pequenos círculos que rodam sobre si, e talvez por isso, a dada altura do caminho, o reencontro de certas coisas nos apareça pela frente.
Memórias que afinal não esquecemos mas que ficaram apenas adormecidas e que agora despertam como uma espécie de foco de luz iluminando o futuro e mantendo presente, quem já fomos, de onde viemos, mas sobretudo o que mudámos. E foi precisamente isso que aconteceu quando um pequeno pedaço do meu passado veio até mim e me fez reencontrar uma antiga paixão.
Éramos muito jovens quando vivemos intensamente a nossa história. Uma bela história de amor, a que circunstâncias da vida puseram fim, contudo, é o mesmo brilho que renasce nos seus olhos, brilho esse que faz sentir que valeu a pena, termos dado vida a um sentimento autêntico.
Só mesmo o tempo nos pode dar em perspectiva, a verdadeira dimensão do caminho percorrido, a importância de cada facto, o papel que cada um representou na trama da vida. Só mesmo o sofrimento, a dor, a alegria, a tristeza, o amor e a ternura, podem tornar válidas todas as experiências, conferindo a todas essas nossas memórias, o seu devido peso na nossa história.
Quantos passaram por nós sem deixar qualquer marca. Quantos contracenaram connosco porém deixaram um travo amargo? Quantos deixaram uma eterna saudade? Outros, um simples sorriso... mas que marca teremos nós deixado nos outros?
Talvez não tenhamos alcançado grande posição social, nem tão pouco grande riqueza. Talvez mesmo, os dias, meses e anos, não sejam muito mais que uma luta pungente pela sobrevivência e talvez por isso, as nossas mãos se encontrem despidas e vazias mas também isso que lhes importa?
Seguramente, que as palavras que lhes dissemos. Os momentos partilhados. As emoções vividas. A tal marca de água, a indelével ou fugaz passagem nas suas vidas. Até que fortuitamente, a vida e toda a sua sabedoria nos concede a graça de podermos perceber o quão valiosos podem ser esses reencontros, especialmente, quando essa tal marca que deixámos nos outros, se denuncia pela luz que se acende nos seus olhos.

domingo, 25 de novembro de 2007

My sweet Daisy

Naquela altura, até porque a Daisy não conhecia a língua dos homens, seria impossível que ela soubesse que eu estava ali para a ir buscar, mas ela sabia. Não sei como, mas sabia.
Estava fechada num pequeno cercado e brincava com outros cachorrinhos. Ao ver-me entrar, parou de repente. Levantou a pata e ficou quieta enquanto os seus olhos, permanecendo presos nos meus, me pareciam dizer: - Estou aqui – e desde que entrou na minha vida que muitas coisas mudaram, e acredito que para melhor.
Apesar do temperamento por vezes efusivo, é muito dócil e generosa na demonstração de afectos. Para ela estar junto é tudo quanto precisa para se sentir feliz, e eu, também.
A sua presença traz até mim, uma serenidade difícil de descrever, já que não são as palavras, mas a companhia silenciosa que nos tornam cúmplices de momentos e estados de espírito. Companheira inseparável é sobretudo com alegria que se submete a longas viagens. Deitada no meu colo deixa-se passar pelas brasas não sem que, de quando em vez, me dê uma espreitadela, certificando-se que estou bem.
Em casa, a sua ajuda é ainda mais preciosa pois é com incrível desvelo que, supervisiona todas as tarefas domésticas, para depois, durante um curto mas merecido descanso, me cobrir de beijos, como se essa fosse a sua forma de premiar o meu esforço.
Mas são, sem sombra de dúvida, os seus olhos que falam. Por vezes, parece que eles captam os meus pensamentos mais íntimos e mais profundos, porém, ela está ali, sempre atenta, sempre disponível, para um leve poisar da cabecita no meu colo, para uma infindável sessão de beijos.
É assim, a minha doce e querida Daisy. A guardiã dos meus dias. Capaz de espantar a minha tristeza, manter afastados os fantasmas da solidão e fazer-me mergulhar num banho de ternura.

sábado, 24 de novembro de 2007

Idoso ou Velho?

Idoso é uma pessoa que tem muita idade.
Velho é uma pessoa que perdeu a jovialidade.
Idoso é uma pessoa que sonha.
Velho é uma pessoa que dorme.
Idoso é alguém que aprende.
Velho é alguém que já nem ensina.
Idoso é alguém cujo calendário tem amanhãs.
Velho é alguém cujo calendário só tem ontens.
Idoso é uma pessoa que tem tido a plenitude de viver uma longa vida produtiva e tem acumulado uma grande experiência. Ele é a ponte entre o passado e o presente, tal como o jovem é a ponte entre o presente e o futuro e é no presente que os dois se encontram.
Velho é aquele que tem carregado o peso dos anos e que em vez de transmitir experiência às gerações vindouras, transmite pessimismo e desilusão. Para ele não existe ponte entre passado e presente. Existe o fosso que o separa do presente pelo apego ao passado.
Idoso se renova a cada dia.
Velho se acaba a cada noite que termina.
Idoso tem os olhos postos no horizonte onde desponta a esperança que ilumina.
Velho tem miopia voltada para os tempos que passaram.
Idoso tem planos.
Velho tem saudades.
Idoso sente a vida.
Velho sofre o que o aproxima da morte.
Idoso moderniza-se. Fala com a juventude e procura aprender com ela.
Velho se ampara no seu tempo e recusa a modernidade
Idoso leva uma vida activa. Para ele o tempo passa rápido mas a velhice nunca chega.
Velho vive no vazio da sua vida. As suas horas arrastam-se, destituídas de sentido.
As rugas do idoso são bonitas porque foram marcadas pelo sorriso.
As rugas do velho são feias porque foram marcadas pela amargura.
Idoso e velho são duas pessoas que até podem ter a mesma idade mas que têm idade diferente no coração.

Deficiências por Mário Quintana

'Deficiente' é aquele que não consegue modificar sua vida, aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, sem ter consciência de que é dono do seu destino.
'Louco' é quem não procura ser feliz com o que possui.
'Cego' é aquele que não vê seu próximo morrer de frio, de fome, de miséria, e só tem olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
'Surdo' é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um amigo, ou o apelo de um irmão. Pois está sempre apressado para o trabalho e quer garantir seus tostões no fim do mês.
'Mudo' é aquele que não consegue falar o que sente e se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
'Paralítico' é quem não consegue andar na direção daqueles que precisam de sua ajuda. 'Diabético' é quem não consegue ser doce.
'Anão' é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois: ' A amizade é um amor que nunca morre.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A paz que trago no peito

A paz que trago no peito é muito diferente daquilo que imaginava quando mais jovem, a associava a uma estrada a direito e muito luminosa.
Hoje sei que a paz resulta do entendimento do todo, da aprendizagem das importantes lições que a vida nos oferece e do modo como encaramos as vicissitudes, se como meros degraus, se como castigos.
Mas curiosa é a forma como alcançamos a paz interior. As lutas tremendas que enfrentamos, as dores que sofremos, as angustias, apenas e somente porque resistimos ao movimento incessante da própria vida, até que por fim, percorrido que esteja, grande parte do caminho, é que olhando para trás, e tendo já uma perspectiva, que vem a tal grande mudança. Doravante, passamos a aceitar a vida tal como ela se nos apresenta.
E compreendemos que a paz, advém de uma consciência tranquila. Fizemos o nosso melhor ou pelo menos tentámos, mas acima de tudo, tivemos na nossa boca, palavras que constroem.
Chorámos muitas vezes, desesperámos, perdemo-nos, mas foi precisamente por isso e através disso, que alcançámos alguma serenidade nos momentos mais difíceis.
A paz que trago no peito, advém, de me reconhecer como um mero e simples pontinho de luz, ínfima parte de um incomensurável e infindável todo, mas sobretudo, por ter depositado a minha confiança, Naquele que criou e governa o mundo.

Livraria humana

A humanidade assemelha-se a uma imensa livraria. Somos livros-homens lendo uns nos outros. Personagens que contracenam nas páginas de um grande livro que a vida vai escrevendo, e cujo enredo depende do entrelace de emoções, sentimentos, desejos e vontades.
Muitos deixam-se levar pela aparência externa, a capa que suscita algum interesse ou sugere uma história, porém, incapazes de mergulhar no conteúdo das páginas.
Deus colocou a sua assinatura divina, nessa espécie de espírito texto que existe em cada um de nós, mas só, quem mergulha na profundeza da alma, lendo as páginas da vida intima de alguém, descobre o seu real valor humano e espiritual, pois é aí, bem fundo, que brilha a essência do texto
Mas a descoberta de cada ser humano, da sua história e daquela que nos promete, resulta quase sempre, numa incrível e fantástica aventura e, mesmo que o final não seja feliz, vale sempre a pena.
Maravilhosa, essa oportunidade que a vida sempre nos oferece, de podermos conhecer tantas histórias, vivermos tantas outras, numas sendo heróis, noutras vilão, numas chorando, noutras sorrindo, contudo aprendendo sempre, e sempre,enriquecendo a nossa alma.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Lágrimas de sal

Vens-me dizer que passou. Que a paixão imensa que vivemos acabou, consumida pelo calor de um verão que também ele chega ao fim. Agora tens que partir deixando para trás, perdidos na neblina da praia, as sombras dos longos, intermináveis passeios à beira-mar, cúmplices de um amor que se acendeu sem sabermos bem, nem como nem porquê.
Vais partir e eu ficarei aqui, saboreando amargamente, o tempo que juntos nos amámos pensando que seria para sempre.
Dizes que é preciso regressar para te reencontrares de novo com parte de ti mesmo e continuar a vida que algures bem longe, deixaste em suspenso à espera de melhores dias.
Grossas lágrimas que sabem a sal, serão o único gosto que me ficará para sempre na boca, a mesma que beijaste tão apaixonadamente, boca que querias fosse tua e só tua, e eu, loucamente, fui.
Indiferente à dor que qual faca cravas no meu peito, contradizes todas as frases que com tanta certeza me disseste. O nosso futuro. A nossa vida. Destinos que se uniram sob um mar de estrelas cadentes.
E ameaças partir sem sequer olhar para trás. No rosto, sobressai um sorriso de vaidade pela conquista daquela estrela-do-mar, que agora arremessaste de regresso ao imenso oceano, como se ele fosse o sítio onde pertenço e onde posso afundar a minha dor, sem ser vista ou ouvida, pois olhos que não vêem, coração que não sente.
Quero falar-te do vazio que fica em mim. Mas tu não queres ouvir. Para ti, o nosso romance acaba ali, precisamente no sítio onde começou e num vaipe de desdém, agarras firme um punhado de areia que deixas cair quando abres a mão, a mão que tantas vezes acariciou o meu corpo. Foi bom mas acabou.
Olho-te em busca daquela centelha que tantas vezes vi brilhar nos teus olhos, mas ela deu lugar a um frio que corta o meu coração.
E partes. Para nunca mais regressar a este corpo que foi teu. A esta alma que foi tua. A este sonho de mulher que um dia ousou sonhar que um grande amor também fazia parte do seu destino.
Fico sentada no muro da esplanada sobranceira ao mar, de onde tantas vezes contemplámos juntos o pôr-do-sol. Tenho as mãos vazias de tudo, o coração cheio de nada. Sinto-me de novo morta enquanto vejo afastares-te para sempre, enquanto estas lágrimas de sal me vão queimando o rosto e juro a mim mesma que jamais voltarei a caminhar pela praia, que jamais voltarei a amar alguém, mesmo que o seu sorriso pareça um sol capaz de iluminar o meu caminho, que jamais voltarei a olhar as estrelas imaginando-me a viajar na cauda de um cometa. Juro a mim mesma que…
Mas tal como os amores de verão se enterram na areia, assim é uma mulher que volta sempre a amar.

Solidão

Sinto-me só. Terrivelmente só. Falo a língua dos homens, contudo ninguém me entende. Os meus dias têm a cor das cinzas que foram todos os meus dias passados, as minhas noites, longas, intermináveis, escuras e frias.
Por entre as quatro paredes que são este corpo onde me sinto cativa, os meus gritos de desespero, são abafados pela distancia do coração dos outros, que indiferentes à minha dor, por mim passam, como se fosse eu, invisível, queda, muda e transparente.
Muitas, tantas vezes, teimosas lágrimas saem dos meus olhos tristes e cansados. Não guardo qualquer saudade, nem do ontem, nem do hoje e nunca do amanhã, um amanhã vazio, amargo como fel.
O meu ventre há muito que secou, secaram as minhas mãos, a pele enrugada que a própria vida curtiu.
Estou só. Terrivelmente só e tenho medo. Medo dos homens, medo desta vida que já não me quer mas que ciosamente me guarda quase intacta, quase lúcida, enquanto a loucura não tomar conta de mim.
Noite após noite, tento manter-me aquecida, rememorando os momentos em que dona da minha vida, fui filha, mãe, fui avó, hoje trapo esgarçado, largado a um qualquer canto, longe da enxerga onde finjo que ainda sonho e que ainda me sinto.
Por vezes, a minha alma esvoaça e em vão peço a Deus que me leve para longe, para trás da nuvem que passa, que me leve ao sabor do vento, agora que este corpo não me deixa ir.
Que sou eu? Quem sou eu? Que faço aqui? Se nem o vento, se nem morte, se nada nem ninguém me quer, talvez, só a vida.
Sinto-me só. Terrivelmente só e gostaria de dizê-lo a ti, a todos, ao mundo, mas ninguém me entende, ninguém me escuta, ninguém é ainda capaz de escutar a voz que vem lá de longe, que vem da solidão em que vivo e me encontro, onde adormeço, onde me esqueço que um dia já fui gente.
A solidão é um quarto escuro, um negro e fundo buraco que nos afasta cada vez para mais longe. A solidão não é a viagem mas a morada mais longínqua do coração. É lá que moram todos os medos, todos os fantasmas, é por lá que esvoaçam todas as sombras. A solidão é a morada dos infelizes, dos mais fracos, daqueles cujos gritos roucos se tornam inaudíveis, a solidão é a morte sem se morrer.

A ver o mar

Não existe melhor lugar para lavarmos a alma dos nossos pecados que à beira-mar.
A suave brisa do vento acariciando o rosto, traz consigo o perfume da saudade, mas também da esperança.
Esse mar, que no seu constante chegar e partir, me lembra um colo de mãe que embalando os meus sentidos, me devolve a serenidade perdida.
Sempre igual mas sempre diferente, ora calmo ora revolto, esse imenso oceano que se desmaia aos meus pés, leva consigo, misturadas na espuma das ondas que me vêm beijar, o medo, o desespero, a angustia e as lágrimas que a vida de quando em vez, me faz derramar.
Guardião de toda a minha existência, só ele me pode devolver o eco das palavras que não ouso repetir, memórias de momentos, encontros e desencontros, do riso e da tristeza, da saudade e da melancolia, que habitam no mais profundo do meu ser.
A minha janela para o mundo, de onde o contemplo, imaginando-o da cor verde da esperança, esperança essa, que se desfaz sob o capricho das marés, tal como os sonhos e a vida, se desfazem perante o capricho dos homens, porque não conhecem o amor.
Mas é sempre ali, quando a saudade me vem visitar e se demora ou teima em não partir, que me sento na fina areia da praia, que o sol aqueceu, relembro o teu rosto, a cor dos teus olhos, recordo o teu sorriso, ensaio o teu beijo… a ver-o-mar.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O perfume do teu beijo

É sempre quando a noite cai que a saudade me vem visitar e é a cada dia que passa, uma saudade maior.
Ela por mim espera, enquanto o meu espírito se despe das mágoas mundanas, para fazer do meu peito a sua morada.
No meu coração, uma espécie de aperto incomoda e por vezes até faz doer. É que a saudade é a memória do coração, dos momentos ditosos, dos afectos que construímos, a ténue luz que mantém acesa a lembrança do que um dia fomos, do que hoje somos e do que um dia iremos ser.
Tento distrair o meu pensamento, mas a saudade não se deixa enganar e teima em me manter presente, muito do que foi o meu passado, e de entre os instantes mais felizes, estás tu, e incapaz de se conter, o meu espírito voa, voa para bem longe, para lá onde tu estás e estarás sempre, enquanto a saudade não te trouxer para perto de mim, enquanto o perfume do teu beijo me vem inebriar os sentidos e como é doce o seu perfume.
Lembra a brisa morna de uma manhã de primavera, as flores que a natureza pintou com as cores do amor e que espargem um aroma suave e reconfortante que me invade a alma fazendo-a rodopiar numa valsa imaginária.
E quase, quase sempre, sinto o toque terno e quente de uma lágrima que se desmaia no meu rosto. Não. Não é uma lágrima de tristeza, mas tão-somente a carícia dos teus dedos que a saudade rememora.
De olhos bem fechados, entrego-me docemente àquele doce embalo e por vezes, até me parece ouvir o som da tua voz que num sussurro me diz estou aqui. Ah! O que a saudade faz quando se torna maior que nós, maior que o mundo e é o brilho da tua alma que enxergo, vindo de longe, mas ao mesmo tempo de tão perto, de dentro de mim.
O meu coração bate forte pela emoção de reviver-te. O desejo de abraçar-te, a saudade que cresce, e que teima em não querer partir, mas quando parte, deixa sempre ficar o perfume do teu beijo.

O voo do pássaro

Havia dias que ele não me saía do pensamento, por isso tentara ligar várias vezes sem sucesso mas se bem que a razão me oferecesse algumas possibilidades, o meu coração de alguma forma sabia e a confirmação chegou alguns dias depois. O meu amigo tinha falecido.
Tenho até por ignorância, algum receio e certo pudor em falar sobre estes assuntos, mas não deixa de ser, como direi, extraordinário, aceitar a possibilidade de que afinal de contas, existe alguma coisa para além da tal nuvem que passa. Não sei, nem ninguém sabe se a morte é irredutivelmente o fim. Se efectiva e tristemente, por mero acaso ou simples coincidência, aparecemos aqui, vivemos a nossa história e partimos.
O que sabemos, é que a vida é feita de um infindável cruzar e entrecruzar de destinos onde se atalham e por vezes se misturam dramas e vivências e onde com alguns, entretecemos laços de afecto que podem, ao serem quebrados, nos dar algum sinal. E o que é um facto, é que me senti mais pobre já que na sua companhia, tanto aprendera.
A morte de alguém é sempre penosa sobretudo para quem fica. É uma história que chegou ao fim e que deixou ficar, apenas memórias que o tempo transforma numa saudade que às vezes faz doer, mas talvez este mistério que envolve a morte, talvez o temor que ela nos inspira, nos impeça de entender que, para além daquilo que os nossos cinco sentidos são capazes de captar, existam outras coisas que nos ultrapassam e transcendem e então talvez, talvez seja possível, que sejamos capazes de sentir esse inaudível bater de asas, primeiro rumo ao horizonte, depois, sabe-se lá.

Depois de mim

Ontem sonhei com a minha morte mas curiosamente não senti medo. É que a morte, a nossa morte, não parece tão assustadora assim. Pior é para quem fica. É a lembrança e a saudade, o vazio... mas no meu sonho, eu viajei no tempo e vi a vida dos seres que amo, depois de mim.
De início, lágrimas de tristeza foram derramadas, depois, veio a saudade e por fim o adormecimento e, cada um de sua maneira foi continuando a sua vida até que a memória de mim, quase se apagou.
Quando despertei, ao invés de me sentir amargurada, senti-me estranhamente livre. Afinal, é esse o destino de quem parte para uma longa e interminável viagem sem direito a regresso. Afinal, a vida de cada um segue o seu rumo, indiferente à suposta falta que julgávamos fazíamos nas suas vidas e até mesmo aquela sensação de vazio que durante algum tempo, lhes aperta o coração, até isso, é preenchido com outros afectos e muitas vezes outras dores.
Compreendi então que enquanto vivos, enquanto possuidores dessa dádiva que chamamos vida, o que devemos de facto fazer, é amar e desfrutar tanto quanto possível de tudo o que nos rodeia, porque quer o queiramos quer não, o nosso tempo irá esgotar-se e a vida continuará sem a nossa presença.
Eu gosto particularmente de falar sobre a morte. Muito mais até do que a vida, a morte é a grande escola de humildade. É ela que nos mantém presente a nossa falibilidade como seres humanos. É a morte que nos ajuda a redimensionar a realidade que nos envolve. É ela o limite mas também o único e seguro horizonte, só que assustadoramente misterioso.
Não é fácil pensarmos no mundo sem o nosso contributo. Afinal de contas, quem aquecerá o leite dos nossos meninos? Quem ocupará a nossa cama? Quem fará o trabalho que com tanto desvelo realizámos? Mas é precisamente neste exercício que redescobrimos a irrefutável mas também dolorosa verdade. Alguém, algures, substituir-nos-á, e de nós, restará apenas e somente, a memória que se vai diluindo com o tempo, o nome que deixámos gravado na pedra, pedaços de nós perpetuados pelos nossos filhos, os afectos que conseguimos construir.
E, se houve alguém capaz de descrever em breves palavras, a dureza desta realidade, Fernando Pessoa, disse assim: -Descansa que apenas serás lembrado em duas datas. Na que nasceste e na que morreste.

O pranto do meu mar

O dia apesar de frio estava bastante soalheiro, por isso, sai de casa à hora do costume, meti-me dentro do carro e, quando dei por mim, estava à beira mar. Os meus longos passeios pela praia estão-me demasiado por baixo da pele, e talvez, só por isso, num acto inconsciente, regressei.
Há muito tempo que não ia ali e a razão era só uma; zangara-me profundamente com o mar. As manhas, as tardes e as noites, quase todas passadas em frente do ecrã, tinham-me feito tomar consciência, da fúria que aquelas águas, agora cá e lá tão serenas, eram capazes de ter.
As imagens por demais atrozes feriram o mais fundo da minha alma deixando-me meia perdida neste modo romântico que tenho de encarar a minha própria fé. Na minha mente o cenário dantesco se não mesmo diabólico não parava de me atormentar, relembrando-me não a maldade de Deus, mas a maldade de muitos homens.
Mas fora o mar que levara consigo não as minhas dores, mas as vidas de muita gente e isso deixava-me dolorosamente confusa. Quantas mas quantas vezes, não lhe confiara os meus segredos, lavara a minha alma, procurara o equilíbrio e a paz, deixando que me embalasse os sentidos, com o suave e constante vaivém das suas ondas.
E agora não fazia sentido.
Acabei por me sentar na areia. Tinha decidido manter-me longe do meu mar. Agora ele metia-me medo, se não mesmo pavor, mas eu, parecia estar pregada ao chão incapaz de sair dali e virar costas.
Creio que foi por esta altura, que com a voz embargada de comoção comecei a falar com ele, como tantas vezes fizera. Perguntei-lhe como fora capaz de matar tanta gente inocente, porém, ele nada me respondeu, antes continuou no seu vaivém indo e vindo, indiferente, impávido, sereno, impenetrável e monstruoso.
De regresso ao carro, sentei-me sobre o muro sobranceiro à praia. Como apesar de tudo o mar continuava belo! E como pode uma coisa tão extraordinária tornar-se de um momento para o outro, no espectro do inferno. E como posso eu, continuar a alimentar esta paixão?
E foi então que me lembrei do primeiro dilúvio, de Sodoma e Gomorra, e de tantos outros horrores descritos na Bíblia, mas sobretudo, do poder divino que as águas contêm, de purificar e de lavar o pecado.
O mal está de tal forma arreigado ao nosso modo de vida que todos os valores se perverteram, já nada é o que parece e andamos todos, demasiado perdidos. Talvez quem sabe, Deus tenha mandado um aviso, ou até um sinal de esperança, reavivando-nos a lembrança que Ele existe?
Eu prefiro acreditar que aquele sussurro do mar, mais não é que um pranto de tristeza e enquanto o olho uma vez mais vem-me à ideia uma das mais belas, mas terríveis frases que já ouvi. – “Não sei do que tenho mais medo, se da maldade dos homens, se da constante omissão daquelas pessoas que se consideram boas”.

Sei

Sei que existes algures. Sei porque te procuro. Porque te espero. Conheço apenas a tua mão e mais não preciso.
Sei que de lá onde me espreitas, velas o meu sono, os meus sonhos. E é tudo quanto sei, mas sei que sei e mais não preciso.
Sei que és um sol que ilumina a minha vida. E é tudo quanto sei e mais não preciso.
Sei que estás presente, em cada lágrima, em cada riso, em todo o meu caminho. E é tudo quanto sei e mais não preciso.
Sei de cor o toque dos teus dedos. O amor com que invades o meu peito, infectando-o de saudade, mas sei que estás aí. E é tudo quanto sei e mais não preciso.
Sei que conheço o teu perfume, pois é ele que inebria os meus sentidos, me dá a arte. E é tudo quanto sei e mais não preciso.
Sei que no fim estarás à minha espera. Braços abertos no regresso, em que regresso a casa. E é tudo quanto sei e mais não preciso.
Sei que estarás sempre comigo. E é tudo quanto sei e mais não preciso. Ou não fosse Deus, a luz que me guia, o abraço que me acolhe, o coração que me espera. Sei. E é tudo quanto sei e mais não preciso.

Ode ao amor

Encontrei por acaso o teu retracto, nas páginas de um velho álbum amarelecido pelo esquecimento das aventuras e de tantas loucuras, quando juntos percorríamos apaixonados, a estrada da vida, sem saber.
Tens vestida a camisola branca que contrasta com o azul do céu, o mesmo que foi conivente com o nosso edílio, enchendo-nos a vida de colorido.
Foi para lá que partiste, levando contigo quem sabe, as memórias, os sentimentos, e com eles, o pensamento de que nos cruzaremos de novo, algures nesse imenso existir de existências.
Já não sinto revolta por me teres abandonado, por teres partido em mil pedaços os meus sonhos, já não sinto tristeza por não mais te poder ver, porque sei que agora és mais feliz.
Lembro-me que quando tudo aconteceu, eu te esperava ansiosa, sentada no nosso banco de jardim e tu tardavas.
O amor tem destas coisas, não nos deixa acreditar que algo de mal possa acontecer àqueles, que através do seu bem-querer nos fazem sentir imortais.
Mas tu tinhas de partir. Já me tinhas ensinado o que era o amor, e por isso partiste, sem me dizeres adeus.
Horas, muitas horas depois, caiu a noite e com ela, o desespero. Na minha doce inocência, tinhas esquecido aquele encontro marcado.
Recordo com tristeza aquele amanhecer soalheiro, que afastou tardiamente a chuva que te fez perder o controle do carro, e revejo em pensamento, aquele derradeiro instante, em que ferido de morte, me olhaste nos olhos e me disseste que o nosso amor seria eterno.
E foi então, que um raio de sol poisou no teu sorriso, levando-te com ele, bem sei, mas que aqueceu o meu coração, me iluminou a alma, acendendo para sempre, dentro do meu peito, a chama da saudade.

A mala de viagem

Dizem que a viagem perfeita é circular. A alegria em partir terminando na de voltar. Eu também acredito que sim, mas...
Gosto muito de partir. Do mistério da aventura que tal como um presente se me oferece. Quantos rostos. Quantas histórias. Quantos destinos se cruzarão com o meu? Quantas palavras. Quantos sorrisos. Quantos olhares. Quantos mundos que a pouco e pouco se revelam nesse incomensurável, extraordinário, desconhecido universo.
Quase sempre parto com alegria. Não importa nem a distância, nem o cansaço. Uma viagem é como o abrir de uma janela de onde posso contemplar a vida mas também escutá-la e senti-la através dos inúmeros personagens que contracenam perante o meu olhar atento.
Mas contudo, é no regresso, enquanto a tal janela, lentamente se vai fechando, que procuro reter os ecos, as sombras, as palavras, os sentimentos que me inundam já de saudade.
Na chegada são os afectos mais profundos que me aguardam. Braços abertos. Sorrisos felizes. O coração que sei bate por mim, que me ajuda a
retomar a minha própria história, quase sempre preenchida por rotinas que afastam do sonho e me prendem ao lado mais prático da vida.
Os dias vão passando. Dois, três, e a mala de viagem que tardo em abrir perdura as minhas recordações, permitindo-me devanear ainda mais um pouco, mas acima de tudo, reflectir sobre todas as impressões que os meus sentidos capturam e de onde nascem, todos os meus contos.
E a mala, a minha pequena mala cor-de-rosa, mantém-se ali, semi aberta, como o elo que mantém profícua a minha inspiração.
Até que tomo coragem, e um após outro, os vestidos vão sendo, lenta e cuidadosamente guardados até ao próximo renovar da esperança. Até ao reacender da centelha da paixão pela descoberta. De outros mundos. De outras histórias. De outras vidas.

Estado de alma

Acredito que a partir de certa altura, aquilo que nos torna inquietos é acima de tudo, a necessidade premente de verdade.
O tempo estreita-se no futuro, no entanto, o caminho torna-se mais definido. Lá para trás, fica algures no passado, a memória de toda uma aprendizagem a lágrimas e sofrimento cumprida e que nos trouxe justo até aqui, onde mais sábios, descobrimos a nossa alma e toda a beleza interior que ao desabrochar nos vem lembrar, que ela sim, é imortal.
Talvez ao longo da nossa vida, tivéssemos unido os nossos corpos muitas vezes, satisfazendo os desejos do ego, aquele duendezinho ocasionalmente caprichoso e intratável que subsiste entre o coração e a razão mas agora é alma que quer ser tocada e é essa busca premente da autenticidade que se inicia, não apenas no amor mas em todas as coisas.
E de repente a quantidade já não nos inebria, nem tão pouco os momentos fugazes, fúteis e levianos. Tornamo-nos objectivos, selectivos, colocando a fasquia da exigência num plano bem mais elevado.
Lenta e indelevelmente, o desapego foi talvez o aprendizado mais duro. Uma lição que se foi repetindo e levando consigo muitos dos afectos, que julgávamos serem nossos e para sempre, contudo, algo de todos eles, permanece em nós, a riqueza dos momentos, das palavras partilhadas e que misteriosamente, fica guardada bem fundo; não nos lembramos de tudo mas apenas e somente, daquilo que de facto é importante.
Mas nem sempre, esse despertar de consciência se dá de forma serena. Quase sempre, inicia-se uma luta violenta em que tudo é posto em causa, sobretudo aquilo que daqui para a frente queremos que seja a nossa vida, e por isso há que romper com os laços negativos com que entretecemos o passado, especialmente no que respeita ao amor.
A vida encarregou-se de nos mostrar que não é um corpo que enche o vazio que sentimos cá dentro, mas tão somente uma alma, uma alma pois é ela que nos transporta para uma outra dimensão onde o amor deixa de ser apenas um estado de sentir, mas um estado de ser.

O comboio da vida


São sete horas da manhã e o comboio chegou à tabela. Na gare, dezenas de almas sonoentas e corpos enregelados segurando a bagagem pela mão, preparam-se para entrar e dar inicio à sua viagem. Eu sento-me no meu lugar e enquanto lá fora a paisagem vai mudando, dou comigo a pensar que a própria vida, se assemelha muito a uma viagem de comboio.
Uma viagem feita de embarques e desembarques, de entrelaces de destinos, de percalços, de surpresas agradáveis em algumas estações e de profundas tristezas noutras, que começa no preciso momento em que nascemos e ao longo da qual, encontramos todo o tipo de passageiros.
Uns que acreditamos estarão para sempre connosco, mas que sairão algures numa estação qualquer e que deixam uma saudade permanente, outros que passam tão despercebidos que nem nos damos conta de que desocuparam o lugar.
Também encontramos pessoas que apenas lá estão pelo simples passeio, enquanto que outras, estão sempre prontos para ajudar, outras instalam-se em carruagens diferentes e fazem o trajecto separados de nós, mas nada impede que de quando em vez, possamos percorrer a distancia que nos separa e fazermos uma, ainda que breve, visita.
Mas viagem é feita de muitos desafios, sonhos, fantasias, esperas, despedidas mas nunca de retornos. O comboio continua sempre seguindo em frente, sempre envolto pelo mistério de não podermos saber nunca quem iremos encontrar, que histórias iremos viver e muito menos qual será para nós o fim da linha.
E enquanto vou sonhando com tudo isto, uma voz anuncia para breve a chegada à estação onde devo sair. Faltam apenas cinco breves minutos, e eu, ainda encantada com a minha fantasia, ainda tenho tempo para pensar que, a ser verdade, que a vida pode ser comparada a uma viagem de comboio, e se aquele fosse de facto para mim, o terminal, de que maneira tinha usufruído dessa jornada e o que tinha aprendido?
Talvez que, e apesar dos muitos percalços, que valeu a pena e que não precisamos de transportar muitas malas mas apenas levarmos connosco, a bagagem mais valiosa. O amor, a tolerância, a compaixão, a alegria mas sobretudo, enfeitarmos a nossa roupa, com o mais belo sorriso.

o mais belo presente do mundo



Hoje vou deixar-me sorrir ao ver o teu rosto mesmo que a vida lá fora me magoe e eu tenha vontade de chorar.
Hoje, vou deixar a roupa e a loiça por lavar, não vou sequer arrumar a casa.
Vou desligar o telemóvel, desprender-me do mundo, concentrar-me em ti enquanto que sentadas na varanda beliscamos biscoitos e construímos castelos no ar, depois, vou pegar na tua mão trazer-te até bem junto de mim e fundindo o nosso olhar, imaginar que somos pássaros e voando nas asas desse sonho, descobrir o que é mesmo a felicidade.
Hoje quero ouvir o som da tua voz, guardá-lo para sempre dentro de mim e deixar-me deslumbrar pela magia desse universo onde ainda vives, e lá, descobrir o verdadeiro sentido da vida.
E há noite, vou-te deixar ficar acordada até mais tarde para podermos juntas espreitar pela janela e contarmos todas as estrelas que há no céu até que o João pestana chegue e eu te deite na cama, e aí, deixando os meus dedos percorrer os teus cabelos, te conte a história de quando nasceste e te sussurre mil vezes com carinho, o quanto te amo.
E nessa altura, vou certamente lembrar-me de todas as mães que visitam as sepulturas dos filhos em vez das suas camas, de todas as mães que nos hospitais sofrem por verem os seus filhos doentes. E vou tentar manter essas lembranças presentes de cada vez que me faças zangar.
Vou guardar bem fundo do meu coração, todos os instantes, todos os momentos, todos os sons, todos os beijos que a tua presença me trouxe como o meu maior e mais precioso tesouro.
Depois, vou depositar na tua testa um longo e sentido beijo e agradecer a Deus, o mais maravilhoso presente deste mundo, tu, que me ajudaste a descobrir o verdadeiro significado da palavra, amor e saber senti-lo e vivê-lo todos os dias.

A vitrina das memórias

Tenho na minha sala um móvel que herdei. É uma pequena vitrina onde, a sete chaves, guardo através dos objectos, pedaços da minha memória.
Sei que quando chegar a minha hora, não os poderei levar comigo e que muito provavelmente, nenhuma das minhas 4 filhas lhes irá dar qualquer valor: - são as velharias da mamã – pensarão elas, mas para mim, cada um representa muito mais que um pedaço do meu passado, ou uma espécie de âncora, mas sim, uma luz que me mantém presente, o sentido de todo o meu caminho.
A boneca de porcelana, o prato tão carinhosamente oferecido pela avó, o missal muito antigo, a garrafa de cristal, o frasquinho de perfume trazido de muito longe, as lembranças de países distantes, a chávena favorita, e cada um de sua maneira muito especial, mantém-me sempre ligada às recordações de momentos e de pessoas muito queridas.
Não olho muito para lá. Não preciso, mas gosto de saber que eles estão ali, perdurando no tempo, intactos, mas também sei que susceptíveis de se quebrar a qualquer instante.
E foi precisamente isso que me aconteceu há dias, quando desastrosamente, uma das miúdas partiu em mil pedaços, uma dessas memórias.
De início incrédula, depois triste e por fim mais do que conformada, apanhei todos os cacos e abracei a minha filha. Ao menos ela estava ali, ilesa, e dentro do seu coração, o seu amor por mim, infinito, e isso era o que mais importava.
Não vou dizer que deixei de fechar a vitrina à chave e muito menos que passei a dar-lhes acesso para mexerem nas coisas, mas, o sucedido ajudou-me a compreender que apesar de as nossas memórias serem de facto muito importantes, não podemos nem devemos, dar-lhes demasiada importância. As memórias, essas, permanecerão guardadas dentro de nós, mas enquanto vivos, há que manter sempre o coração aberto para permitir que outras entrem.

o lugar de se ser feliz

Algures, no cimo de uma suave colina sobranceira ao mar, existe um pequeno chalé. Paredes brancas, janelas rectangulares aureoladas de um vermelho desmaiado, os seus telhados em bico, são como raízes que o mantém junto ao céu. Lá no alto, nas suas águas furtadas, um amplo sótão, que o tempo foi enchendo de memórias, cuja história contada por pequenos fragmentos do passado, mantém presente que o tempo passa arrastando consigo tudo, quase tudo, e quantas vezes, a própria vida.
Não são muitas as vezes que retorno ali, pois a minha alma dói-me, entristecida pelos ecos dos risos, o perfume das palavras soltas ao vento, o mesmo vento, que uiva lá fora, como uma canção que os anjos nos vêm cantar.
Das paredes, outrora imponentes e cobertas de inúmeros retratos, restam apenas hoje, as pequenas lascas de tinta, a marca do parafuso arrancado na ânsia de alguém levar consigo, um naco do passado. Os móveis, o que deles resta, há muito que o caruncho carcomeu, espalhando à sua volta, um manto creme, como se o vivido ao passar, deixasse somente ficar, as suas cinzas.
Ao longe, vindo do fundo do corredor, vem-me à lembrança o cheirinho dos biscoitos feitos com carinho, invadindo a casa à hora do lanche.
Mas é lá em cima, que moram muito do que foi o melhor do meu caminho.
A vivescência da paisagem engalanada pelo azul da cor do céu, um imenso manto azul esverdeado, por vezes sereno, outras revolto, outras, tantas vezes, coberto pela neblina. Os pássaros que num voo rasante, parecem vir brincar com os bicos do telhado. Os ninhos das andorinhas, o sol penetrando pelas janelas espargindo o chão de luz que dança com as sombras das nuvens.
Tudo, tudo me cheira a passado. A tempo que apesar de ido, se mantém vivo dentro de mim enquanto a saudade teimar em manter presente a memória de quem já fui.
A pequena caixa das bolachas, o ursinho de peluche, os vestidos da infância, as fotos amarelecidas pelos anos, esquecidas dentro de uma caixa de papelão e por entre tantas recordações, o meu coração rememora a mágoa da perda dos muitos entes queridos que povoaram a minha meninice que hoje me parece ter sido tão fugaz como um arco-íris numa manhã de orvalho.
Enquanto os meus olhos percorrem aquelas imagens, o vento vem bater-me na janela trazendo consigo o odor da maresia e com ela, a intuição da imensidão do mar que no incessante vai vem, personifica a própria vida. Uma onda prenhe de vida, que ao se desmaiar na praia morre, para voltar a nascer na seguinte e o meu coração rejubila de esperança, que talvez a morte não seja mesmo o fim.
Mas o tempo passou. Tudo passou. Só eu fiquei e a nostalgia que a magia da infância reaviva de quando em vez, sobretudo quando a vida lá fora nos machuca, nos açoita e nos faz sofrer, e quando essa dor, de tão forte, nos obriga a uma retirada estratégica, deste mundo conturbado, quase vil.
Um pequeno chalé, numa suave colina sobranceira ao mar, cujos telhados em forma de bico, o mantêm preso ao céu. Um chalé, cujo tecto é o céu azul, o tapete, um imenso mar, e onde o ar que se respira é a magia e a fantasia embaladas pelo sussurro do vento. Quem não tem, dentro de si, um lugar assim? Um lugar sagrado, secreto, onde se guardam memórias, sentimentos, recordações. Um lugar que pode ser em qualquer lugar, num qualquer canto, mas quase sempre dentro de nós, dentro do peito, profundo na nossa alma, onde não existem limites, nem para o amor, nem para amar. Um lugar que mais não é, que o lugar de se ser feliz.

Pássaro azul


Gostava de ser um pequeno pássaro azul. Pequeno, porque a grandeza não está no tamanho mas na dimensão da nossa alma, e essa enquanto for capaz de sonhar, será sempre, sempre, sempre, imensa. Azul, como o azul do céu, o azul da eternidade.
Por vezes, sinto uma enorme saudade daquela rapariga que um dia fui e nessas alturas, acorre-me a imagem de um pássaro azul. Que nasceu livre. Que nasceu para voar e que levava nas asas, ao sabor da suave brisa do vento, um incomensurável mundo de sonhos.
Os anos vão passando, e com eles, vão-se esbatendo as nossas fantasias até ficarem perdidas algures, nas memórias da infância, porém, de quando em vez, essas memórias regressam anunciando que os nossos sonhos não morreram e não morrerão nunca e que sempre será tempo de os tornarmos em realidade.
Então fecho os olhos e procuro esse pequeno ser, que descubro, contínua ainda vivo dentro de mim. Azul. Pequenino. Livre.
Um ser que mais não é do que a minha alma, esse maravilhoso, mágico milagre que existe dentro de cada um.

Amor, prepétuo amor

Se existem coisas verdadeiramente mágicas, o beijo é seguramente uma delas. Um beijo, essa simples e quase que instintiva demonstração de afecto, pode fazer-nos voar, enxugar as nossas lágrimas, matar a saudade, ou até mesmo acalmar a nossa dor, mas este beijo, sobre o qual escrevo, não é um beijo como os outros, é isso sim, uma emoção difícil de descrever, uma estadia ainda que breve, no lugar mais lindo e mais extraordinário, o céu. Um beijo dado com toda a ternura e pureza, o beijo mais verdadeiro e eterno, o beijo da minha filha.
Sei pelo brilho dos seus olhos, pela expressão ternurenta o quão profundos os seus beijos põem ser, e por isso, só ela, nas horas mais difíceis, consegue trazer de volta o sorriso aos meus lábios. Creio que herdou de mim essa faceta beijoqueira. Afinal de contas que mais podemos fazer quando nem as palavras conseguem apaziguar os nossos medos, as nossas ânsias, os nossos desesperos. Nada melhor que um beijo de ternura, como que dizendo: - pronto já passou – para devolver a serenidade, e ela, apesar da sua ainda tenra idade, já se tornou mestra nessa tão nobre arte.
Creio que para todas as mães é assim, um beijo e um abraço apertado, um abraço como que vindo da alma, que é capaz de tornar um dia invernoso, no mais belo dia de sol, um beijo que mantém estreito e apertado o vinculo ao útero materno onde tudo começou.
Um beijo que homenageia todos os sustos, todas as preocupações, todas as arrelias, mas também e acima de tudo, que tornam especiais esses momentos mágicos das proezas, das alegrias e de todas descobertas e que ficarão eternamente guardados dentro de nós.

o meu próprio céu

Gosto de imaginar que existe algures, um lugar para onde vão todas as coisas que por circunstâncias diversas não podem acontecer, especialmente os sonhos, e naquelas noites quentes de verão, gosto de ficar a olhar para o céu e pensar que talvez eles se transformem em estrelas, mas é evidente que para isso, só à minha conta, eu tenho que ter um céu só para mim.
O meu céu para além de infinito, é profusamente iluminado por estrelas de todos tamanhos, dependendo da dimensão do meu sonho mas também pintado por todas as cores, porque um céu que não seja pintado com as cores do arco íris, não é céu que se preze.
Cá por baixo, muito dos meus sonhos, desfazem-se como bolinhas de sabão por isso, dou comigo, pedindo carinhosamente ao vento que os leve lá para o alto onde sei eles, transformando-se em estrelas, iluminam o meu céu mas sobretudo o meu caminho.
É para lá, para esse extraordinário e belo limbo que o meu espírito voa, à boleia, de uma nuvem, da brisa e quantas vezes, nas asas de um pássaro, e é por lá que ele fica até que a vida de novo me chama.
Muitas vezes, o que me espera, é a dura realidade de uma existência dolorida, mas não me importo muito com isso, afinal, eu tenho um cantinho só para mim. As minhas próprias estrelas. O meu próprio céu.