quarta-feira, 2 de maio de 2018

Amor alado

Naquela manhã tal como em muitas outras, desde que vim morar para aqui, que logo manhã bem cedo, bateu forte as grandes asas mesmo em frente à porta. Não, ela não queria comer porque com receio de me atrasar, eu já tinha deixado lá fora a tigelinha com milho. Nessa manhã, a minha amiga Patolas queria mesmo entrar. Passeou-se pela casa. Aproximou-se de todos os gatos e, tal como mostram as imagens, mostrou-se muito curiosa em relação à Mel Fui tomar banho, tratar das minhas coisas, estive no computador... uma hora depois, fui dar com ela, tranquila, a dormir junto à minha cama. Mas eu tinha que sair e só de pensar que no regresso iria encontrar um monte de cócós para limpar, não tive outra alternativa que convidá-la a sair. Abri a porta e nada. Chamei por ela e nada, tentei encaminhá-la para a saída, mas ela dava a volta e fugia para outro lado, até que por fim, me enchi de coragem, peguei nela e coloquei-a lá fora. Fiquei muito admirada porque não seguiu o seu caminho. Ficou ali mesmo junto a mim e enquanto lhe falava, ela parecia responder, levantando a cabeça e fazendo uns pequenos ruídos, mas eu tinha pressa por isso, despedi-me dela, meti-me no carro e fui. Na manhã seguinte… o pior aconteceu… e num de repente, as sombras de todos os amigos sencientes que perdi, ensombrou a minha alegria. Afinal o que nos faz correr e porque corremos tanto? Qual a razão de tanta pressa se esta nos faz perder as coisas mais importantes da vida? Não estou apenas a falar de patos, de gatos ou de cães, estou a falar de tudo, simplesmente, tudo aquilo que de facto deveria ser prioritário, fundamental e até premente e, seguramente que os afectos o são em todos os sentidos, bem como a aprender a gerir e tornar amigo essa coisa a que chamamos de tempo e que parece fugir por entre os dedos. Talvez a Patolas me estivesse a tentar dizer que queria ficar porque ali se sentia segura. Talvez ela me quisesse dizer alguma coisa, mas eu estava com pressa… De regresso a casa no final da tarde, sentia o meu coração apertado e dei por mim à sua procura. Fui dar com ela bastante ferida e ainda por cima na asa, o que a impediria de voar e escapar aos predadores. Em vão chamei mas percebi que estava demasiado fraca e temi o pior. No dia seguinte voltei a procurá-la mas dela nem sombra. Sentei-me numa pedra e chorei não apenas por ela mas por todos. E assim, numa tristeza profunda, se passaram duas longas semanas que tentei preencher de mil e uma maneiras. Queria esquecer a dor que sentia, mas hoje o Universo enviou-me um presente maravilhoso quando inesperadamente, a vejo a correr para mim. Abri a porta de casa e ela entrou. Muito fraquinha, a asa machucada, cheia de fome. Claro que esta história não tem nem interesse ou importância alguma. Que importa se uma pata selvagem me cativou, se chorei por ela. Mas para mim, são estes pequenos e insignificantes milagres que dão sentido à minha vida, que me fazem sentir que de facto nem que seja para uma pata, sou útil e faço a diferença. São pequenas histórias como esta que nos ensinam que, por mais insignificante que possa parecer, são pequenos gestos tornam este mundo vil mais prazeiroso já que servem como ensaio para gestos sucessivamente maiores.