quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Sonho numa tarde de verão
O telefone tocou arrancando-me daquela sonolência própria dos dias quentes de verão e as palavras – preciso de ti – despertaram os meus sentidos. Há quanto, quanto tempo, não as ouvia, vindas de ti, de outros, de alguém… talvez por isso, me sentia morta, adormecida perante a vida que no seu incessante rodopio, me suga a vontade, de apenas ser.
Devolvo o apelo. Combinamos um encontro fugaz. Temos apenas tempo para um beijo fugidio, uma ou outra frase proferida em ritmo acelerado. O tempo urge, escapa-se-nos por entre os dedos, mas há tanto para dizer, para deixar sair, palavras que não ousamos dizer a mais ninguém, e que por isso, ficam entaladas primeiro na alma, depois no coração, até nos embargarem a voz com aquele tom de infinda tristeza.
Não há tempo para o amor, contudo, existe para odiar. Não há tempo para falar de nós, mas existe para falar dos outros, não há tempo para viver mas há para fenecer.
Os nossos olhos reflectem bem o que nos vai não no pensamento, mas no espírito, como se fossem uma espécie de janela através da qual, enxergamos este mundo cada vez mais cheio de si mesmo, mais perdido neste interminável universo, porém, um breve segundo é quanto nos basta.
Que bom estares aqui. É tudo o que preciso ouvir e dizer. Que saudade do que um dia fomos, que saudade do que um dia poderíamos ser. Que saudade. Que saudade!
Não me digas nada. Quero olhar para ti, mergulhar os meus olhos nos teus e… sentir. Não, não me digas nada. As palavras foram inventadas para esconder os pensamentos, por isso fica assim. Olhando sem ver, apenas sentindo.
O tempo rouba-nos tudo menos a alma, tolhe-nos a vontade, distorce tudo, mas os olhos não mentem quando o seu brilho se torna tão intenso que mais parecem duas estrelas e que coisa mais bela existe que a simbiose de dois seres, cúmplices num só olhar, mergulhado um no outro!
Mas o tempo foge. Corre a uma velocidade vertiginosa e há que partirmos rumo sabe-se lá aonde. Espera! Só mais um breve instante. Quero dizer-te apenas isto… Mas tu já partiste e eu parto também, caminho em passo apressado, o rosto pregado no chão, escondendo as lágrimas que incontidas começam a sair.
Mas algo de ti em mim ficou. Um sorriso breve, o perfume das palavras, o beijo que pairou no ar, o amor que ficou por fazer, onde esta raiva de viver se vai esvaindo neste mundo vazio. E penso em ti. É mais forte que eu ou não estivesse escrito nas estrelas que um dia, num certo dia, nos iríamos reencontrar para nunca mais nos desencontrarmos.
Caminho de regresso a um sitio qualquer. Não importa aonde porque no meu peito, o coração tem nova morada e na minha mente, o eco das palavras que te quis dizer e que o tempo não deixou.
Procuro-te para além da espera, para além do meu próprio ser, por detrás de cada janela, em cada esquina, por entre os rostos das gentes que passam, em busca do sorriso que me devolverá a paz. Mergulho no mar como se fosse o teu olhar, escrevo o teu nome na espuma macia das ondas e peço à suave brisa do vento que te leve um beijo, de saudade.
E tal como o amor que não ousamos viver, assim o sonho se esfumou quando numa tarde de verão, o sonho aconteceu nos pais dos sonhos
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