quinta-feira, 1 de maio de 2008

Já não sou mais mulher

Ultimamente, a expressão do rosto de Alice, está diferente. Antes sorridente, hoje, denuncia uma certa tristeza, e é então que quase num sussurro, me confessa, que a menopausa chegou e ela, já não se sente mais mulher.
Infelizmente, como Alice, existem muitas mulheres que pensam, sentem e sofrem por isso. Vêm todas elas de um tempo ainda arcaico, em que se acreditava que, uma vez terminado o ciclo reprodutivo, uma mulher entrava em pura decadência.
Convém no entanto lembrar, que, muito antes dos homens se terem lembrado de inventar o 25 de Abril, nós as mulheres, já tínhamos conquistado o nosso, quando nos anos cinquenta, a descoberta da pílula, nos veio libertar de uma posição de seres submissos e meras parideiras para tomarmos em mãos, o poder de decidir sobre os nossos destinos e desde então que numa escalada lenta mas firme, temos vindo a conquistar o nosso espaço.
Mas se a modernidade, enclausurou certas mulheres na escravatura da sua própria liberdade, também nos trouxe um presente, a descoberta de que após a menopausa, é que começa a sua verdadeira vida.
. Hoje, este novo ciclo que se nos abre, se bem que um bocadinho avassalador, pelo confronto com o espelho, permitem-nos um aprofundamento da alma mas sobretudo, impedir o incomensurável vazio que, por entre filhos, casa e trabalho, não pudemos preencher.
Tornamo-nos mais selectivas, mais objectivas, mais maduras, despojamo-nos do supérfluo em prol da interminável colecção de pequenos momentos felizes, que cuidadosamente guardamos dentro do coração e que nos enchem de ternura, mas sobretudo de disponibilidade, para connosco mesmas, para com os outros e para com a vida.
E é toda esta beleza muito especial, que essa nova fase de ser nos trás, seguramente, como recompensa por todo o sacrifício e abnegação que dedicamos aos nossos.
Não há pois que temer, mas sim, aceitar essa dádiva. Triste seria, se sermos mulheres, significasse apenas, a nossa fecundidade. Ser mulher, será sempre, muito mais vasto e mais profundo que isso. Ser mulher é ser alma inteira e ter o direito de vivenciá-la, sempre.

Sem comentários: