quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Era uma vez um sonho

Samuel era apenas um menino. Tinha oito anos de idade, porém a sua ainda curta vida, já tinha muito para contar. Vivia numa pequena aldeia, perdida algures no tempo e no espaço. Longe de tudo mas sobretudo do pai.
A sua casa era muito pequenina. Ficava escondida por entre montes que no inverno se cobriam de branco, montes esses, que os seus pés tão bem conheciam, pois ainda o sol não tinha nascido, lá ia ele a caminho da escola.
Samuel não conhecia o tempo de brincar, em casa, muito havia por fazer mas há noite, enquanto deitado na sua caminha, ele sonhava.
Mas este menino não sonhava com brinquedos, nem com roupas boas, nem mesmo com sapatos, o seu maior sonho, guardava-o ele em segredo, escondido dentro do peito, sobretudo da mãe, as lágrimas que à noite lhe faziam companhia, até que, exausto, se deixava adormecer num sono profundo.
Apesar da tenra idade, lembrava-se bem daquela manhã fria e triste, em que o pai tinha partido para bem longe, levando às costas uma mochila carregada de saudade e a promessa que em breve, estariam de novo juntos. Os anos tinham-se passado numa sucessão de dias de dura sobrevivência. As sopas de cavalo cansado ao desjejum, o caldo de courato antes da deita, as longas caminhadas sob os pedacinhos de cartão com que em vão, tentava tapar os buracos dos sapatos.
Na manhã seguinte, era dia de Natal. A mãe trouxera para dentro de casa um minúsculo pinheirinho, enfeitara-o com pedacinhos de algodão, algumas castanhas pintadas e pendurara na lareira suja e velhinha, uma peúga, pronta para receber qualquer prenda, e à noite, enquanto lhe aconchegava os cobertores, contara-lhe uma vez mais, a história do nascimento do menino Jesus e de como no céu surgira uma estrela que guiara os reis magos até ele.
Samuel esperou até ficar sozinho, depois, levantou-se da cama e foi-se pôr à janela. Olhou para o céu em busca da estrela mais brilhante. Fechou os olhos e pediu ardentemente ao menino Jesus, que tornasse o seu sonho real, depois, deixou-se embalar pelo suave som da neve, que caindo de mansinho, o fez adormecer.
Subitamente, a porta da casa abriu-se. Samuel acordou meio estremunhado. Esfregou os olhos e voltou a esfregar. Não. Não podia ser verdade, ali, bem á sua frente, recortada pela luz do sol que o nascer do dia trouxera consigo, a figura de um homem. E eis que enormes braços se abrem. Oferecendo o peito como guarida. Oferecendo a este menino, o único presente que alguma vez desejara, o colo do seu pai.

Sem comentários: