sábado, 20 de setembro de 2008

Volto já

Apesar do mal que por dentro o corroía, manteve o seu sorriso até ao fim, mesmo quando se soube incapaz de fugir à morte foi com sentido de humor que me disse: - amiga, a morte é a grande traição à vida mas confesso, sinto uma enorme curiosidade em saber o que me espera do outro lado, e prometo-te que assim que descobrir volto cá para te dizer.
O meu amigo partiu e desde então que ansiosamente serena, aguardo que o prometido se cumpra.
Desde sempre que a morte e o incomensurável mistério que a envolve, tem exercido um fascínio inspirador alimentando o inesgotável universo do imaginário de incontáveis escritores e poetas.
Doloroso para quem fica, contudo, é pelo testemunho daqueles cujo fim se anuncia, que a serenidade nos serve de consolo e, talvez a morte, não seja tão má assim, sobretudo, quando do lado de cá, a vida, feita e mantida pelos que também a aguardam na fila de espera, se torna quantas vezes tão pouco apetecível.
Mas fascinante é a ideia da continuidade, talvez sob outra forma esquecida mas sobretudo que retornar é possível. Por vezes, aquelas suas palavras ressoam na minha mente, e é nessas alturas que quase parece que sinto a sua presença. Sempre sorrindo, sempre em busca do lado soalheiro da vida.
Ah amigo, como gostaria de saber notícias tuas. Que bom seria, se a morte fosse apenas e somente, um volto já.

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