Todos os dias, incontornavelmente, tenho um encontro marcado. Do outro lado do espelho, a figura que se me apresenta, assemelha-se à imagem de mim mesma, contudo, com alguma satisfação constato, que, olhando o passado, compreendo o quanto ela foi mudando.
A de ontem era menos madura, mais impulsiva e ansiosa. Sabia menos, conhecia menos emoções, sorvia a vida com carácter de urgência, desconhecia ainda, a importância das coisas simples que suplantam tudo ou quase tudo.
Os olhos que do outro lado me fitam, reflectem ainda o brilho das estrelas e, na sua alma subsiste um fervilhar de sonhos de quem não carrega todavia, o fardo da esperança morta.
Amanhã voltarei a encontrar-me com ela. Um reencontro a cada vez mais pacífico e sereno. O corpo mais não é que uma crisálida. A vida metamorfoseia a alma soltando-a em forma de borboleta. Não me importa por isso, não ter mais tudo no lugar, desde que tenha a cabeça. Nem que não seja mais tão bonita mas que tenha postura, personalidade e carisma.
Hoje, amanhã e sempre, uma reflectindo a outra, ambas sabemos, que as marcas que o sofrimento deixou ficar, não foram em vão. São elas que iluminando o nosso olhar, o tornam verdadeiro, credível e especial. Que o caminho percorrido, pejado de inúmeros instantes maravilhosamente marcantes, foi intensamente vivido. Que cada perda, cada lágrima nos fez crescer.
Não me perguntem quantos anos tenho mas queiram saber de mim, se gerei e criei filhos, se tenho amigos, se ainda que com sonhos interrompidos, os meus braços acolheram dores alheias, se engolindo lágrimas fiz alguém sorrir, se troquei beijos, se fui capaz de dizer a palavra certa, que obra fiz, se fui luz iluminando os outros.
Sei que sou uma espécie de livro meio pronto e que me esperam ainda umas quantas páginas por escrever. Pretendo escrever todas elas, com a tinta da doçura em que a minha dor se transfigurou, porém, sempre com os olhos postos nesse espelho de mim mesma, para jamais me esquecer quem realmente sou.
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
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