terça-feira, 18 de maio de 2010

Doce o teu perfume

Sobranceira ao meu terraço, ergue-se magnífica, a centenária amendoeira. Por esta altura, revestida de milhares de florinhas cor-de-rosa, traz até mim o odor adocicado do seu perfume e a recordação de uma das mais belas lendas da nossa região.
Mas é sobretudo a serena beleza do porte imponente, que me fascina. Imagino-a, raízes firmemente seguras na terra, a seiva que a percorre e alimenta, os ramos como braços que se abrem para o céu, o tronco vergado pelo testemunhar silencioso de tantos dramas, o espectro da estóica sobrevivência a catástrofes e intempéries, contudo sempre bela.
Ao longo dos anos, ouso acreditar que de certa forma nos tornámos grandes amigas. Unem-nos olhares cúmplices que discretamente nos lançamos uma à outra, os segredos que em sussurro lhe peço para guardar, contudo temo, que algures no tempo, e dado a que vive paredes meias com casas, alguém, na soberba da sua ignorância, a mande derrubar sem dó nem piedade.
Uma árvore derrubada causa-me dor pelo que encerra em si mesma, mistérios e lições de vida que, ao a observarmos atentamente, podemos aprender, mas sobretudo e apesar de tudo, que maravilhosa dádiva é, e enquanto a manhã se penteia, podermos sentir o seu doce perfume.

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