Retrato na parede
Algures pelo caminho nossos destinos se cruzaram e, da história que nasceu mal os nossos olhos se encontraram, resta apenas, hoje e sempre, um gasto retrato na parede.
Da memória que a tua fugaz passagem deixou ficar, não ficaram nem sonhos nem sorrisos. Lágrimas talvez, lágrimas que como as águas de um rio, te levaram para bem longe de mim.
Não sinto qualquer tristeza. Não foi bom e acabou, por isso de ti não guardo nem a saudade.
Um retrato na parede é tudo o que me resta, porém tudo o que preciso para me manter presente, que o tempo perdido não volta nunca mais, e tu, felizmente, também não.
terça-feira, 18 de maio de 2010
As flores do céu
Li algures que as borboletas sáo flores que a natureza desprendeu e que as flores, são as borboletas que ela depois recolhe para as soltar de novo.
Num mundo onde a magia do acreditar quase que desapareceu não deixa contudo de ser reconfortante permitirmo-nos de quando em vez, soltar as nossas asas e voar um bocadinho.
O sonho faz falta porque traz esperança e essa, ao partir do coração das pessoas, retira a tudo a sua beleza.
Se coisas existem que nos fazem suster a respiração, são essas flores aladas que pairam por aí, espalhando beijos fecundos de vida, colorindo o ar num leve e suave esvoaçar, livres.
Generosa, a mãe terra está impregnada de poesia. Em cada flor que desabrocha, em cada árvore que ensombreia, em cada sussuro do mar, na caricia que a brisa do vento traz consigo, no sol que nos ilumina o caminho… até nas lagrimas de chuva.
Incessantes os milagres que de olhos poisados e coração aberto podemos presenciar e perante os quais nos sentimos pequeninos. Triste seria acreditar que o voo da borboleta seria breve e que tal como nós, a sua passagem pela vida seria fugaz. Melhor, muito melhor, será acreditar que embora possa ser assim, não morremos, apenas partimos para outras paragens.
Num mundo onde a magia do acreditar quase que desapareceu não deixa contudo de ser reconfortante permitirmo-nos de quando em vez, soltar as nossas asas e voar um bocadinho.
O sonho faz falta porque traz esperança e essa, ao partir do coração das pessoas, retira a tudo a sua beleza.
Se coisas existem que nos fazem suster a respiração, são essas flores aladas que pairam por aí, espalhando beijos fecundos de vida, colorindo o ar num leve e suave esvoaçar, livres.
Generosa, a mãe terra está impregnada de poesia. Em cada flor que desabrocha, em cada árvore que ensombreia, em cada sussuro do mar, na caricia que a brisa do vento traz consigo, no sol que nos ilumina o caminho… até nas lagrimas de chuva.
Incessantes os milagres que de olhos poisados e coração aberto podemos presenciar e perante os quais nos sentimos pequeninos. Triste seria acreditar que o voo da borboleta seria breve e que tal como nós, a sua passagem pela vida seria fugaz. Melhor, muito melhor, será acreditar que embora possa ser assim, não morremos, apenas partimos para outras paragens.
Lavar de mãos
Do outro lado do guiché, a expressão do olhar causava uma certa estranheza até que por fim, ao escutar as suas palavras, compreendi.
São três da tarde. Acabei de, uma vez mais, internar a minha mãe. Pouco depois alguém me chama pedindo-me que vá buscar os pertences dela.
A mulher que me recebe tem, cravados no rosto infindáveis sulcos que como o tal mapa da alma, denunciam a vida dura e difícil que terá suportado, contudo, é a forma como me olha que perturba.
Sem saber bem porquê, talvez para aliviar a minha preocupação, confesso-lhe a minha angústia mas sobretudo o cansaço emocional que há anos me acompanha, desde que o estado de saúde da minha mãe se deteriorou.
Marta é esse o seu nome, mantém os seus olhos pregados nos meus e, a sensação que tenho é que perscruta o que me vai verdadeiramente na alma, depois, como se tivesse encontrado aquilo que procurava, acaba por explicar.
Há muito que perdeu a conta aos casos de familiares que ali deixam os seus idosos para não mais voltar. O hospital tornou-se assim, numa espécie de depósito mas sobretudo, o mais fácil lavar de mãos para muitos que quer por incapacidade ou vontade, não encontram outras saídas para aqueles seres que agora se tornaram em pesada cruz.
A expressão que encontrei nos seus olhos foi a da desconfiança, habituada mas inconformada que está com a bestialidade instituída, apoiada sobre o facilitismo de uma simples morada falsa.
Para muitos, a última imagem que levam das suas passagem por esta vida, são apenas e somente, a das paredes do hospital onde o correr de cortina, esconde o verdadeiro rosto da desumanidade.
São três da tarde. Acabei de, uma vez mais, internar a minha mãe. Pouco depois alguém me chama pedindo-me que vá buscar os pertences dela.
A mulher que me recebe tem, cravados no rosto infindáveis sulcos que como o tal mapa da alma, denunciam a vida dura e difícil que terá suportado, contudo, é a forma como me olha que perturba.
Sem saber bem porquê, talvez para aliviar a minha preocupação, confesso-lhe a minha angústia mas sobretudo o cansaço emocional que há anos me acompanha, desde que o estado de saúde da minha mãe se deteriorou.
Marta é esse o seu nome, mantém os seus olhos pregados nos meus e, a sensação que tenho é que perscruta o que me vai verdadeiramente na alma, depois, como se tivesse encontrado aquilo que procurava, acaba por explicar.
Há muito que perdeu a conta aos casos de familiares que ali deixam os seus idosos para não mais voltar. O hospital tornou-se assim, numa espécie de depósito mas sobretudo, o mais fácil lavar de mãos para muitos que quer por incapacidade ou vontade, não encontram outras saídas para aqueles seres que agora se tornaram em pesada cruz.
A expressão que encontrei nos seus olhos foi a da desconfiança, habituada mas inconformada que está com a bestialidade instituída, apoiada sobre o facilitismo de uma simples morada falsa.
Para muitos, a última imagem que levam das suas passagem por esta vida, são apenas e somente, a das paredes do hospital onde o correr de cortina, esconde o verdadeiro rosto da desumanidade.
Ah se eu pudesse
Ah se eu pudesse envolver-te de novo no manto da inocência...
Se pudesse fazer do meu amor, a varinha de condão capaz de varrer a tristeza dos teus olhos.
Ah se eu pudesse, pegaria num raio de sol para que ele iluminando o teu sorriso, iluminasse também o teu caminha.
Ah se eu pudesse, detinha o tempo para que pudesses ser criança nem que fosse por mais um dia.
Se eu pudesse, ensinar-te-ia tudo o que ainda não aprendi.
Ah se eu pudesse ajudar-te a passar as pontes que com o meu sofrimento destrui.
Se eu pudesse chorar por ti as tuas lagrimas,
Se eu soubesse que embora te tenha dado vida ela te pertence, que não tens de percorrer o meu caminho...
Se eu soubesse que o meu passado não tem que ser o teu.
Ah se eu soubesse, se eu pudesse, meu amor, mudaria o mundo para onde te trouxe, só para que fosses feliz, mas nao posso fazer muito.
Talvez apenas dizer-te, todos os dias, em todos os instantes, o quanto te amo, nem que seja apenas, através do brilho que a tua presença na minha vida , acende nos meus olhos.
Se pudesse fazer do meu amor, a varinha de condão capaz de varrer a tristeza dos teus olhos.
Ah se eu pudesse, pegaria num raio de sol para que ele iluminando o teu sorriso, iluminasse também o teu caminha.
Ah se eu pudesse, detinha o tempo para que pudesses ser criança nem que fosse por mais um dia.
Se eu pudesse, ensinar-te-ia tudo o que ainda não aprendi.
Ah se eu pudesse ajudar-te a passar as pontes que com o meu sofrimento destrui.
Se eu pudesse chorar por ti as tuas lagrimas,
Se eu soubesse que embora te tenha dado vida ela te pertence, que não tens de percorrer o meu caminho...
Se eu soubesse que o meu passado não tem que ser o teu.
Ah se eu soubesse, se eu pudesse, meu amor, mudaria o mundo para onde te trouxe, só para que fosses feliz, mas nao posso fazer muito.
Talvez apenas dizer-te, todos os dias, em todos os instantes, o quanto te amo, nem que seja apenas, através do brilho que a tua presença na minha vida , acende nos meus olhos.
Doce o teu perfume
Sobranceira ao meu terraço, ergue-se magnífica, a centenária amendoeira. Por esta altura, revestida de milhares de florinhas cor-de-rosa, traz até mim o odor adocicado do seu perfume e a recordação de uma das mais belas lendas da nossa região.
Mas é sobretudo a serena beleza do porte imponente, que me fascina. Imagino-a, raízes firmemente seguras na terra, a seiva que a percorre e alimenta, os ramos como braços que se abrem para o céu, o tronco vergado pelo testemunhar silencioso de tantos dramas, o espectro da estóica sobrevivência a catástrofes e intempéries, contudo sempre bela.
Ao longo dos anos, ouso acreditar que de certa forma nos tornámos grandes amigas. Unem-nos olhares cúmplices que discretamente nos lançamos uma à outra, os segredos que em sussurro lhe peço para guardar, contudo temo, que algures no tempo, e dado a que vive paredes meias com casas, alguém, na soberba da sua ignorância, a mande derrubar sem dó nem piedade.
Uma árvore derrubada causa-me dor pelo que encerra em si mesma, mistérios e lições de vida que, ao a observarmos atentamente, podemos aprender, mas sobretudo e apesar de tudo, que maravilhosa dádiva é, e enquanto a manhã se penteia, podermos sentir o seu doce perfume.
Mas é sobretudo a serena beleza do porte imponente, que me fascina. Imagino-a, raízes firmemente seguras na terra, a seiva que a percorre e alimenta, os ramos como braços que se abrem para o céu, o tronco vergado pelo testemunhar silencioso de tantos dramas, o espectro da estóica sobrevivência a catástrofes e intempéries, contudo sempre bela.
Ao longo dos anos, ouso acreditar que de certa forma nos tornámos grandes amigas. Unem-nos olhares cúmplices que discretamente nos lançamos uma à outra, os segredos que em sussurro lhe peço para guardar, contudo temo, que algures no tempo, e dado a que vive paredes meias com casas, alguém, na soberba da sua ignorância, a mande derrubar sem dó nem piedade.
Uma árvore derrubada causa-me dor pelo que encerra em si mesma, mistérios e lições de vida que, ao a observarmos atentamente, podemos aprender, mas sobretudo e apesar de tudo, que maravilhosa dádiva é, e enquanto a manhã se penteia, podermos sentir o seu doce perfume.
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