Cabeça pequenina enfeitada por um carrapito branco. Corpo volumoso. Braços curtos, mãos sapudas, o rosto de expressão sempre triste, era assim a prima Ângela o alvo favorito da nossa chacota.
Não foram muitas, as vezes que estive com ela, mas hoje, enquanto que o meu conhecimento sobre o mundo e sobre as pessoas, se aprofunda, consigo compreender, a razão da sua mania.
É que a prima Ângela, tinha por inseparável companhia, firmemente seguro pelas mãos papudas e poisado delicadamente no regaço, o seu tesouro, e onde quer que fosse, onde quer que estivesse, ali estava a mala, uma velha e gasta mala que talvez outrora, tivesse sido de cor preta e que ela mantinha bem juntinho de si e manteria até ao fim dos seus dias, intocável.
Quando por fim partiu, a curiosidade de todos era imensa, afinal que segredos conteria aquela velha relíquia! Apenas e somente velhos retratos, pequenas fitinhas de tecido, alguns anéis de cabelo. Era este o seu valioso tesouro, as únicas reminiscências de um filho precocemente falecido.
Ao recordar esta história, não posso deixar de pensar que todos nós, também mantemos, ciosamente guardados, preciosos tesouros, uns dentro do peito, outros cravados na nossa alma e que nos mantêm presente, o caminho percorrido, mas no caso da prima Ângela, não era de todo essa perspectiva que ela buscava, para ela, aqueles pedacinhos do passado, mantinham-na, tal como uma âncora, presa à saudade.
sábado, 5 de janeiro de 2008
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