domingo, 27 de fevereiro de 2011
o riso das mulheres
Ao longo da vida, nós mulheres somos confrontadas por inúmeras situações, creio que intrínsecas do nosso próprio universo feminino por isso, ninguém como nós, para saber-lhes dar a volta.
Sabem como é aquela sensação, quando inesperada e incontornavelmente somos atraídas por algo que, numa montra nos chama a atenção?
Pois bem. Foi precisamente isso que me aconteceu quando, uma tarde destas, fui literalmente seduzida, por um lindo par de sapatos.
Fiquei algum tempo a olhar para eles. Fiz as minhas contas, pensei um pouco... até que, incapaz de resistir, entrei na loja. Quis no entanto o malfadado destino que o único par existente e que tão avassaladoramente me cativara o ego da vaidade, fosse o número acima do meu, porém, como mulher que sou, e decidida a não ser vencida por uma questão tão insignificante, comprei-os na mesma.
E lá fui eu, pelo resto do caminho, a imaginar-me com eles calçados, fazendo-me por esquecer que os pés inchados por ter calcorreado meia Lisboa, tinham contribuído para a ilusão de que me serviam como uma luva, ao mesmo tempo que tentava encontrar dentro de mim, argumentos que apoiassem a minha decisão como por exemplo o jantar dessa mesma noite.
Escusado será dizer que após algum descanso, e a ajuda do frio que a noite trouxe, dei comigo a caminhar segurando com dificuldade os maravilhosos sapatos com os dedos dos pés e com a sensação de estar a andar de barco!
Provavelmente, se não fosse mulher, talvez não tivesse reagido a esta caricata situação, ultrapassando-a sob recurso de uma das mais belas e eficazes armas, o riso, riso esse que não somente contagiou todos à minha volta, como ainda me fez reflectir e aprender uma bela lição.
Só quando aprendemos a rir de nós próprios e a encarar os nossos pequenos disparates e falhas com sentido de humor, é que encontramos um atalho para sermos mais felizes.
Estação das perdas
De quando em vez, a nossa alma fica retida na estação das perdas.
Assemelham-se a uma espécie de plataformas de incomensurável dor provocadas pela partida de familiares e amigos, dor essa que ao invés de se diluir, mergulhando-nos no esquecimento, se intensifica numa agonia proporcional à distância percorrida e também mais empobrecidos nos nossos afectos.
Apagados pela borracha do tempo, pequenos gestos, palavras, rostos e vozes, instantes partilhados, são revisitados pela alma que levada pela saudade nos mantém presente, que somos a soma de tudo o que deles ficou em nós.
Jamais poderemos evitar a estação das perdas e tão pouco, aprender a suportar o silêncio das vozes que se calaram mas seguimos viagem. De novo, só a nossa alma sabe, apenas sabe, em quantas mais estações deixaremos as nossas lágrimas e em qual delas ficará a derradeira, porém, em cada uma subsiste uma ténue e bela luz, que nos transmite sempre, esperança.
sábado, 26 de fevereiro de 2011
Com doçura
Ultimamente, tenho tentado aprender a conviver, com doçura, com este novo estado de invisibilidade que a maduridade me vem trazendo.
A certa altura, uma espécie de borracha, começou a apagar em mim, muitos dos traços, dos contornos que julgava serem meus.
De mansinho, algumas rugas fizeram dos meus olhos a sua morada e percebo, que por lá irão ficar, enquanto todo o meu corpo se transforma e se prepara para me acompanhar até ao fim dos meus dias.
Apesar de já ter presenciado, o que a passagem do tempo faz aos outros, nunca, nem sequer por um único instante, pensei como seria comigo, e como, envelhecer pode ser para muitos, uma verdadeira tragédia.
Durante muito tempo, habituámo-nos a achar que por termos tudo no sitio certo, éramos por isso donos do mundo, esquecendo, ou afastando de nós o pensamento, que um dia, também a borracha que apaga a frescura, viria operar em nós uma transformação tão profunda.
Mas eis que sábia, a vida nos oferece uma oportunidade única, a de vivenciarmos o mais maravilhoso dos milagres, quando, por entre lágrimas e tristeza, por fim compreendemos, que essa, pequena e invisível borracha, ao retirar a camada exterior, vai expondo, de forma ainda mais bela, a nossa alma.
Crise da meia-idade, é isto, o que muitos jovens adjectivam, ao fazerem troça, da doçura, da disponibilidade e da generosidade que a partir daí, fará parte integrante dos nossos passos
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