sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Despojos da vida


A dada altura fiz um pacto com a vida. Forte em mim era o desejo de transferir as marcas que, o contínuo acto abrupto de crescer tinham deixado ficar cravados bem fundo na minha alma e ir colocando-as de mansinho, no meu rosto.
Por detrás deste “negócio” existe uma certa ironia, o corpo que aprisiona hoje a minha alma, mais não é que um espécie de casca que na partida irei deixar ficar para trás, enquanto que o meu espírito, esse, por mais leve, subirá mais alto no céu.
A imagem que se reflecte no espelho evidencia toda a história do meu percurso de vida. Cada lágrima, cada perda, o fel de cada palavra, a mágoa e a dor que como despojos da vida, apesar de me terem feito amadurecer, não pretendo levar comigo.
Não importa as razões escusas ou assumidas, é a leveza do ser que importa preservar em detrimento das tentativas vãs e desesperadas em tentar esconder ou apagar o verdadeiro mapa da nossa alma. No fim, serão sempre os nossos olhos, mas sobretudo a expressão do nosso olhar, a trair a nossa vaidade.

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