quarta-feira, 30 de dezembro de 2009
Reaprender a amar.
Não existe dor mais lancinante e cruel que não podermos encontrar nos olhos da nossa mãe, o brilho das memórias do nosso passado.
Mãe é muito mais que um colo. Mãe é o cofre sagrado que guarda intactos e indeléveis os registos de todos os marcos importantes do complicado processo em que ao crescer, nos fomos fazendo gente. Apesar da sua presença física, a sua alma, essa, jaz algures num limbo inacessível e inatingível do esquecimento, onde todo esse património afectivo, parece perdido para sempre e dos laços que nos mantinham cativas do nosso amor, não se vislumbra qualquer sombra.
Vítima de uma embolia cerebral, a mulher que hoje encontro deitada sobre a cama do hospital, é apenas uma alma vazia que enverga o corpo da minha mãe. Resta-me a mim, reaprender a amar este novo ser cujas lembranças se apagam incessante e dolorosamente.
Em vão, sento-me a seu lado, as mãos dadas como outrora, esboçando sorrisos que a façam reacender a chama de vida que sinto se esgota. Mas mães morrem quando querem, indiferentes à dor, ao vazio, à saudade. E de novo pergunto a mim mesma, o que faz de nós aquilo que somos, se o sopro de vida, se os sentimentos se a alma e o que faço ao amor que ao partir, ela deixou ficar em mim.
E a resposta, humedecida pelas lágrimas que teimosas, dos meus olhos vão saindo, surge assim,” o amor que te ensinei, repartirás pela vida, sendo gente e sendo mãe, até à hora da despedida”.
Quisera eu
Quisera eu arrancar-te do meu peito, como erva daninha fosses, mas quis o teu amor, que ele tivesse, profundas raízes que ao se entrelaçarem na minha alma, o tornaram eterno, imortal.
Ah mas como dói, este amor que fica, este imenso vazio. Como queimam estas lágrimas que sei, não posso derramar.
Meu colo, meu porto de abrigo enquanto qual veleiro, por esse mundo me fui encontrando e descobrindo, na alegria de partir pela felicidade de regressar.
Mas quisera eu, arrancar-te do meu peito. Apagar em mim, todos os traços que a ternura deixou ficar. Abafar os ecos dos risos, a memória de todos os sorrisos, quando a vida nos fazia chorar.
Parte, parte de mim e livre voa, ainda que partindo em mil pedaços, este coração que também foi teu. Parte amor maior que o mundo. Parte o abraço, o beijo profundo, com travo amargo de indelével saudade
Ah mas como dói, este amor que fica, este imenso vazio. Como queimam estas lágrimas que sei, não posso derramar.
Meu colo, meu porto de abrigo enquanto qual veleiro, por esse mundo me fui encontrando e descobrindo, na alegria de partir pela felicidade de regressar.
Mas quisera eu, arrancar-te do meu peito. Apagar em mim, todos os traços que a ternura deixou ficar. Abafar os ecos dos risos, a memória de todos os sorrisos, quando a vida nos fazia chorar.
Parte, parte de mim e livre voa, ainda que partindo em mil pedaços, este coração que também foi teu. Parte amor maior que o mundo. Parte o abraço, o beijo profundo, com travo amargo de indelével saudade
Ao sabor do vento
Neste entardecer, em que a penumbra faz parecer que o sol se esmaga na linha do horizonte, saio do hotel rumo á beira-rio.
Vou sozinha comigo mesma, envolta num sem fim de pensamentos, enquanto rememoro passagens do passado que a saudade cristalizou na minha memória.
Por breves instantes, sinto-me triste, profundamente triste até que, inesperadamente, uma suave brisa vem brincar comigo, acariciando o meu corpo com incrível doçura.
Fecho os olhos, inebriada pela sensação que me provoca, aquele toque seda do vento contra a minha pele e que parece levar consigo o peso que carrego sobre os ombros.
O mundo à minha volta, deixou de existir. Não tenho medo ou pudor que alguém me veja. Para mim, este vento magico e imprevisto, é a resposta às minhas preces, por isso, aceito o seu convite para uma valsa imaginaria, em que de braços abertos, danço com ele e por uma vez, em toda a minha caminhada, deixo-me apenas levar ao sabor do vento.
Não sei, creio nunca saberei, quanto tempo o nosso “caso” durou. Quando nos sentimos felizes, o relógio da alma, é quem marca o compasso, nem tão pouco sei, se foi sonho ou realidade aquela verdadeira loucura de dançar com a brisa, mas, sinceramente, isso pouco ou nada me importa.
Sei apenas que veio bem de longe, bem de lá da linha do horizonte, onde o céu e a terra se parecem beijar. Sei que me trouxe uma carícia. Que dançámos. Que fomos felizes e que, quando partiu, deixou em mim um doce perfume de saudade.
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