sábado, 26 de novembro de 2011

Pássaro negro

Vejo a morte nos olhos da minha mãe. Um pássaro negro esvoaça à sua volta, ensaiando lentamente o voo rumo ao outro lado, aquele que oculto por um véu, esconde de mim, o incomensurável mistério. Como dói, encontrar a morte através de quem mais amamos. Deixa-nos impotentes, incapazes, míseros, reduzidos na nossa insignificância. Mas aquele imenso pássaro negro, detêm-se ainda e apenas, o tempo para colher mais algumas penas, as dela que se misturam com as minhas ou não fosse este corpo que agora habito, nascido do dela. No seu derradeiro voo, o pássaro negro não olhará para trás, ainda que em lágrimas me deixe, ainda que a saudade me aperte o peito, ainda que as memórias se transformem em sombras. Despeço-me sem raiva, sem mágoa e sem revolta. Despeço-me do laço quebrado, do colo roubado, despeço-me contorcendo-me de dor, da guardiã da minha infância feliz, despeço-me desta parte de mim que ao partir, deixará um vazio que nada neste mundo poderá alguma vez preencher mas guardarei para sempre a memória, do brilho do amor que iluminava sempre os seus olhos, o imenso amor que sentia por mim e que acredito, nem a morte conseguirá destruir. Amo-te mãe e amar-te-ei sempre.